Constituições

CAPÍTULO 1

 

SENTIDO DA NOSSA VOCAÇÃO

I. Origens da nossa vocação

1. Os Irmãos Descalços da Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo fazem parte de uma família religiosa que, inserida no Povo de Deus e enriquecida com um carisma próprio, cumpre uma missão peculiar no Corpo Místico de Cristo.

Esta família, à qual somos chamados por uma vocação pessoal e na medida em que é como uma expressão renovada de uma Ordem antiga, alia a fidelidade à tradição espiritual do Carmelo e um afã de renovação permanente: duas atitudes que nos legou em herança a nossa Madre Santa Teresa.

Conscientes disso e dóceis ao chamamento de Deus, sentimo-nos em sintonia com o genuíno espírito e vida dos nossos antecessores e testemunhamos a continuidade e comunhão com a família. Assim, nos feitos «dos nossos antigos Santos Padres», não vemos apenas acontecimentos de um passado longínquo, mas o esboço e o projeto providencial da nossa vida na Igreja de hoje.

2. As origens da Ordem, o título de “Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo», e as mais antigas e sólidas tradições espirituais demonstram a índole mariana e bíblica da nossa vocação.

Com efeito, ao eleger a Virgem Maria por mãe e padroeira da Ordem, vemos na sua vida interior e união com o mistério de Cristo um modelo admirável da nossa consagração religiosa.

Dentre os veneráveis personagens bíblicos, prestamos culto especial ao profeta Elias, que contempla o Deus vivo e se abrasa em zelo pela sua glória, como o inspirador do Carmelo, e consideramos o seu carisma profético como o ideal do nosso chamamento à escuta e proclamação da Palavra de Deus.

3. Encontramos esta «fórmula de vida» originária na Regra de Santo Alberto de Jerusalém, cujas prescrições principais nos propõem como norma de conduta como escritas anteriormente.

4. A Igreja aceitou e ratificou de maneira oficial a forma de vida, que se havia implantado e observado segundo o modelo eremítico. Depois, ao reconhecer legalmente a Ordem com o título e a condição de Mendicantes, confiou-lhe, com a sua autoridade, a missão apostólica e ao mesmo tempo recomendava-lhe fidelidade ao espírito primitivo.

 

II. Carisma teresiano

5. A origem da nossa família no Carmelo e o sentido mais profundo da nossa vocação estão estreitamente vinculados à vida espiritual e ao carisma de Santa Teresa, e sobretudo às graças místicas, sob cujo influxo ela concebeu o propósito de renovar a Ordem, orientando-a por completo para a oração e contemplação das coisas divinas, submetendo-a fielmente ao Evangelho e à Regra «primitiva», organizando-a com base em poucos membros, escolhidos à maneira do pequeno rebanho evangélico e «fundada em austeridade, oração e estrita pobreza».

6. Este projeto renovador desenvolve-se e adquire umas linhas mais definidas ao longo de sucessivas experiências, em virtude das quais Santa Teresa aprofunda misticamente e experimenta de algum modo a vida, os sofrimentos e a nova ruptura da «unidade» da Igreja e sobretudo as profanações da Eucaristia e do sacerdócio. Teresa, com este doloroso panorama diante dos olhos, propõe à nova família do Carmelo um objetivo apostólico, de modo que a oração, o retiro e a vida toda da primitiva comunidade de monjas, se ordenem para o serviço da Igreja.

7. Por fim a vocação do Carmelo renovado define-se plenamente graças à progressiva experiência eclesial de Santa Teresa. Iluminada por este dom singular, Teresa fixou a atenção nos povos ainda não cristãos e, daí em diante, sentiu-se atraída à contemplação do imenso horizonte missionário. Tudo isso contribuiu para que a Santa manifestasse em primeiro lugar a maturidade do seu espírito apostólico e decidisse depois, não só aumentar o grupo primitivo das descalças, mas também associar à sua obra frades animados pelo mesmo espírito.

8. A Santa Madre, ao renovar a família dos frades, propôs-se assegurar a perseverança e a promoção da vocação das monjas, valendo-se para isso de religiosos que partilhassem idênticos ideais, e prestar à Igreja um variado serviço quer com a oração quer com o apostolado destes filhos.

9. Em todas estas iniciativas Teresa pretendeu cuidar fielmente da continuidade do Carmelo. Deste modo, transmitiu, com novo alento, à sua família renovada, a devoção à Santíssima Virgem Maria do Monte Carmelo. Legou-lhe a herança espiritual da comunhão com os modelos bíblicos, profetas e Santos Padres do Carmelo, como ela a vivia. Assumiu a Regra no seu espírito genuíno e propô-la para si mesma e para a sua família, depois de lhe atribuir novas metas apostólicas.

10. A Santa Madre quis marcar a sua Obra com uma forma e um estilo peculiares de vida: fomentando as virtudes sociais e outros valores humanos, cultivando a alegria e suavidade da vida fraterna em cordial ambiente de família, recomendando a dignidade da pessoa humana e a nobreza de alma, elogiando e promovendo a formação dos religiosos jovens, o estudo e o cultivo das «letras», ordenando a mortificação e os exercícios ascéticos da comunidade a uma mais profunda vida teologal e adaptando estas práticas ao ministério apostólico, alentando a comunhão entre as diversas casas e a amizade evangélica entre as pessoas.

11. Quando a Santa Madre concretizava o seu projeto, a divina Providência deu-lhe S. João da Cruz como colaborador. Com efeito, logo que Teresa o conheceu e verificou que estava movido pelos seus mesmos desejos e preparado pelo Espírito Santo, conquistou-o para o seu carisma, revelando-lhe a idéia de renovação espiritual na mesma Ordem da Santíssima Virgem. Sem perda de tempo, iniciou-o no estilo de vida que tinha implementado entre as monjas. Assim o nosso Santo Padre começou em Duruelo esta forma de vida em total sintonia com os critérios e o espírito de Teresa.

Precisamente, a Santa Madre considerou Frei João como «muito pai da sua alma», enquanto o teve como diretor espiritual. Ele, por sua vez, reconheceu nela a iniciadora do Carmelo renovado, atribuindo-lhe de bom grado o carisma que Deus outorga aos fundadores.

Assim, os dois Santos, pelo fato de impulsionar toda a Ordem carmelitana, tanto masculina como feminina, para um novo estilo de vida, «lançaram, de certo modo, os novos alicerces da Ordem».

12. Deus preparou a Santa Madre com uma vida e uma experiência espiritual que a iriam converter em mestra e insigne modelo da nossa vida. Mas temos de ver a imagem viva do autêntico carmelita no nosso Pai S. João da Cruz, o qual nos pode repetir o convite do Apóstolo: «Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo» (1 Cor 4, 16; 11, 1), já que na sua vida, a vocação do Carmelo renovado se manifesta esplendorosa nas suas obras e doutrina.

13. Por conseguinte, a nossa maneira de viver resplandece perfeitamente na pessoa dos dois Santos e se expressa e configura nos seus escritos, de modo que os carismas que eles gozam e o gênero de vida espiritual que nos propõem, até no que se refere ao trato mais íntimo com Deus e à experiência das realidades divinas, não devem considerar-se estritamente pessoais, mas como pertencentes ao patrimônio e à plenitude da vocação da nossa Ordem.

14. O Senhor, na Sua bondade, concedeu esta graça aos membros de toda a Ordem, a fim de que o carisma carmelitano seja mais profundamente conhecido, frutifique e se difunda conforme os dons que o Espírito comunica aos nossos religiosos.

 

III. Elementos primordiais da nossa vocação

15. Tendo em conta as origens da nossa vocação e o carisma teresiano, cabe enumerar aqui os seguintes elementos primordiais da nossa profissão:

a) Abraçamos a vida religiosa «em obséquio de Jesus Cristo», apoiando-nos no propósito comum, na imitação e no patrocínio da Santíssima Virgem Maria, cuja vida constitui para nós um modelo de configuração com Cristo.

b) A nossa vocação é fundamentalmente uma graça que nos impulsiona, numa comunhão fraterna de vida, para a «misteriosa união com Deus» pelo caminho da contemplação e da atividade apostólica indissoluvelmente irmanadas com o serviço da Igreja.

c) Estamos chamados à oração, a qual, alimentada com a escuta da Palavra de Deus e a liturgia, nos conduz ao trato de amizade com Deus, não só quando oramos, mas quando vivemos. Comprometemo-nos nesta vida de oração, que se há-de nutrir da fé, da esperança e sobretudo da caridade divina, a fim de, uma vez purificados os corações, podermos aprofundar na nossa vocação cristã e dispormo-nos para uma efusão mais copiosa dos dons do Espírito Santo. Desta maneira, participamos do carisma teresiano e transmitimos a inspiração originária do Carmelo, envolvidos pela presença e o mistério do Deus vivo.

d) Pertence à identidade do nosso carisma penetrar de zelo apostólico a oração e toda a vida consagrada, trabalhar de muitas maneiras, no serviço da Igreja e dos homens, para que verdadeiramente «a ação apostólica dimane da íntima união com Cristo», e, mais ainda, aspirar à sublime forma de apostolado que brota da plenitude do «estado de união com Deus».

e) Pretendemos realizar ambos os serviços, contemplativo e apostólico, formando uma comunidade fraterna. Deste modo, fiéis à idéia primitiva de Santa Teresa de fundar uma pequena família à imagem e semelhança do pequeno «colégio de Cristo», graças à nossa comunhão de vida baseada na caridade, convertemo-nos em testemunhas da unidade da Igreja.

f) Por último, esforçamo-nos por edificar a nossa vida sobre o alicerce da abnegação evangélica, segundo a Regra e os ensinamentos dos nossos Santos Padres.

16. A Igreja homologou repetidas vezes esta maneira de viver que a Ordem tinha reconhecido e aprovado, e exorta-nos, sem descanso, a segui-la com fidelidade. Foi assim que admitiu a nossa família e a declarou clerical e de direito pontifício, submetendo-a imediatamente à jurisdição do Papa, em virtude da isenção, para que prestasse um melhor serviço à mesma Igreja em todo o mundo e assegurasse mais adequadamente a vida e o crescimento da própria Ordem.

17. O Espírito Santo dignou-se conceder uma perene fecundidade à nossa família – que recebeu a aprovação oficial da Igreja – quer por meio de frades e monjas de esclarecida santidade a quem suscitou no Carmelo como mestres de vida espiritual, quer por meio das famílias religiosas, nascidas do tronco comum da Ordem e comprometidas na sua missão, que trabalham na vinha do Senhor e partilham conosco a vocação e o espírito.

18. Os nossos Santos Padres, desde o princípio, procuraram com toda a alma que o carisma, do qual tinham consciência cada vez mais clara, se expressasse adequadamente numa forma de vida e se consolidasse com umas leis. Movidos pela mesma razão, nós abraçamos o seguimento de Cristo proposto no Evangelho como norma suprema de vida, e professamos a Regra de Santo Alberto de Jerusalém aprovada por Inocêncio IV, segundo as presentes Constituições.

 

CAPÍTULO 2

SEGUIMENTO DE CRISTO E CONSAGRAÇÃO RELIGIOSA

19. Fiéis a Deus que nos chama a viver em plenitude os conselhos evangélicos, e guiados pelo Espírito Santo, queremos seguir a Cristo mais estreitamente pelos votos públicos de castidade, pobreza e obediência com o propósito de nos entregarmos de alma e corpo só a Deus, amado sobre todas as coisas, e de nos comprometermos totalmente ao seu serviço. Deste modo, Deus consagra-nos pela Igreja e confia-nos uma missão apostólica para a salvação do mundo, tal como o Pai consagrou e enviou a Cristo (cf. Jo 10, 36).

20. Assim, pois, o amor de Deus, derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo (cf. Rom 5, 5) recebido no batismo, ao assemelhar-nos a Cristo, vitaliza e orienta a prática dos conselhos evangélicos, dispõe-nos para a íntima união com Deus e associa-nos de maneira especial à Igreja e ao seu mistério, habilitando-nos para amar como Cristo nos amou e se entregou por nós.

21. Este projeto de vida consagrada exige a plenitude do amor a Deus e aos irmãos; caridade perfeita que ultrapassa as fronteiras das leis e nos introduz na experiência radical da abnegação evangélica, instrumento e sinal dessa mesma caridade. Desta maneira, chegamos a ser, na Igreja, um sinal vivo das mais sublimes exigências do Evangelho, para cumprir no mundo a nossa missão profética.

 

I. Castidade consagrada

22. Com o voto de castidade, professamos a continência perfeita conforme ao celibato pelo Reino dos céus (cf. Mt 19, 12; 1 Cor 7, 32-34) e, deste modo, nos entregamos de corpo e alma ao serviço de Deus e dos homens, à imitação de Cristo virgem e totalmente dedicado ao serviço do Pai e dos homens.

A castidade consagrada, ao mesmo tempo que expressa e partilha de modo eminente e radical a misteriosa união do Corpo místico com Cristo Cabeça, preanuncia o Reino futuro e habilita-nos para a liberdade de um coração indiviso, graças à qual entregamos a nossa vida como no amor de Deus e os homens.

23. Procuremos que a castidade, exigência da nossa imitação da Virgem Maria, manifeste a consagração a Deus, ame e sirva a pessoa de Cristo, adorne a fidelidade da Igreja esposa, nos disponha para a misteriosa união com Deus, testemunhe gozosamente o amor divino, estimule e revele a sua fecundidade.

24. Porque a castidade é um dom inestimável confiado à fragilidade humana, apoiados no poder da Palavra de Deus e alimentados por uma relação de amizade com Cristo e a Virgem Maria, guardaremos com serenidade o nosso compromisso de fidelidade a fim de alcançarmos a maturidade afetiva e humana. Contudo, conscientes da nossa condição humana, abandonemos toda a presunção e conservemos o dom de Deus com a humildade, a oração, a guarda dos sentidos e a vigilância do coração, sem omitir, por outro lado, os meios naturais que favorecem a saúde mental e corporal, contribuindo para o equilíbrio psíquico. Tudo isto se preserva mais eficazmente pela comunhão de vida, baseada na alegria fraterna do amor e do serviço aos outros.

 

II. Pobreza

25. A fim de seguir mais de perto a Cristo pobre, confiado totalmente à Providência do Pai, professamos o conselho evangélico da pobreza, que, além de uma vida real e espiritualmente pobre, baseada no trabalho e na sobriedade e desprendida das riquezas da terra, inclui a obediência aos superiores no uso e disposição dos bens.

26. Pela profissão temporal, os religiosos conservam a propriedade dos seus bens e a capacidade para adquirir outros. Antes da primeira profissão, deixarão a administração desses bens a quem desejarem e disporão livremente do uso e usufruto dos mesmos. Antes da profissão solene, devem fazer a renúncia dos seus bens; o seu efeito é imediato à profissão, tornando-se também válida, onde for possível, perante o direito civil.

27. Além disso, em virtude da profissão solene, renunciamos à propriedade de bens e à liberdade de os adquirir e possuir; por conseguinte, serão inválidos os atos contrários ao voto da pobreza. As nossas comunidades viverão da Providência e do trabalho de todos os irmãos.

Aos conventos que sofrerem de maiores necessidades, o Conselho Provincial poderá permitir rendas moderadas.

28. Tudo quanto o religioso adquire por sua capacidade ou em atenção ao Instituto, adquire-o para a Ordem. De igual modo, tudo quanto recebe a título de pensão, subvenção ou seguro, recebe-o para a Ordem, conforme às Normas. Este princípio aplica-se também aos bens do professo solene adquiridos a qualquer outro título.

29. A pobreza impõe-nos um estilo peculiar de vida, de modo que, imitando gozosamente a Cristo na disponibilidade da própria pessoa, no uso humilde e moderado das coisas, na assídua dedicação ao trabalho, na simplicidade das casas e no trato caritativo com os pobres e a promoção dos necessitados, demos ao povo de Deus testemunho de pobreza evangélica tanto a nível pessoal como comunitário. Assim, enquanto nos esforçamos por ser autênticos seguidores, não do mundo, mas do Evangelho, vamos ganhando e experimentando cada dia a liberdade dos filhos de Deus e a dignidade do homem.

30. Aos filhos de Santa Teresa compete-lhes viver uma pobreza que os torne livres para as coisas do alto e os ajude a manter a vida fraterna, também na sua forma exterior, num ambiente de humildade e simplicidade, alimentando os ardentes desejos de abnegação pela desnudez espiritual são joanista, que é ao mesmo tempo exercício e testemunho da ditosa esperança. Deste modo, com Maria, incluímo-nos no número dos «pobres de Javé», que esperam tudo só de Deus e servem com alegria os irmãos.

31. Obedientes à Regra, vivamos com seriedade a lei e a obrigação do trabalho apostólico, intelectual e manual, como expressão de pobreza e serviço fraterno, adquirindo, com diligência, mas sem inquietação, o necessário para viver. Desta maneira, colaboramos na obra da criação pelo aperfeiçoamento das coisas e da sociedade, damos testemunho da presença e da solicitude maternal da Igreja para com os pobres, associamo-nos à obra redentora de Cristo e partilhamos os nossos bens com os irmãos, sobretudo os mais necessitados, rejeitamos qualquer tipo de injustiça e defendemos os princípios da justiça social.

32. As Províncias e as comunidades fomentem entre si a comunicação de bens temporais e socorram com generosidade as necessidades da Igreja e dos pobres.

33. Procurando novas formas de imitar a Cristo pobre, os nossos esforços unificados hão-de empenhar-se sobretudo num estilo evangélico e num testemunho de pobreza de modo que, através da nossa conduta, iluminem um mundo onde a miséria e a opulência se chocam violentamente.

34. Esta preocupação comum pela vivência da pobreza há-de ser um assunto freqüente de diálogo e reflexão nos capítulos e reuniões da comunidade.

 

III. Obediência

35. A fim de imitar, com maior fidelidade, o estilo de vida que o Filho de Deus abraçou e propôs aos seus discípulos quando veio ao mundo cumprindo a vontade do Pai, professamos o conselho evangélico da obediência; por meio dele comprometemo-nos a submeter a nossa vontade aos superiores, representantes de Deus, quando mandam segundo as Constituições. Assim, como sacrifício da própria pessoa, entregamos a Deus toda a nossa vontade para nos unirmos, de um modo mais estável e seguro, à sua vontade salvadora.

36. Com espírito de fé, e por mediação dos nossos superiores, submetemo-nos a Deus e entregamo-nos ao serviço de todos os irmãos em Cristo, o Qual, pela sua obediência ao Pai, veio ao mundo para servir e dar a vida em resgate de todos (cf. Mt 20, 28; Jo 10, 14-18).

Por isso, dóceis à vontade de Deus, e em espírito de fé e amor, empregamos a nossa inteligência e vontade, bem como os dons da natureza e da graça, para obedecer humildemente aos superiores no cumprimento das suas disposições e nos ofícios encomendados, certos de que trabalhamos para a edificação do Corpo de Cristo, segundo o desígnio de Deus.

37. O ideal da misteriosa união com Deus, proposta pelos nossos Santos Padres, consiste em conformar a nossa vontade à vontade divina, de tal modo que as duas se transformem numa só: a de Deus. Isto exige dos superiores, e dos outros religiosos, a busca permanente da vontade de Deus, tanto a nível pessoal como comunitário, de modo a vivermos a obediência como adesão ao que é do agrado do Pai celeste, imitando a Cristo que se fez obediente ao Pai até à morte na cruz.

Também contemplamos a Virgem Maria como modelo da nossa obediência. Ela, a humilde serva do Senhor, nunca agiu pela sua vontade de criatura, mas pela moção do Espírito Santo.

38. Devemos renovar continuamente o espírito de obediência. Por ela delimitamos o nosso arbítrio e realizamos um projeto peculiar de vida, servindo-nos do diálogo sincero, num clima de fé e amor, com o superior e os outros religiosos; mas, acima de tudo, sabemos que a obediência evangélica, ao estar, pela sua própria natureza, fundada no mistério pascal de Cristo, é causa freqüente de verdadeira imolação, tornando-nos participantes da obra salvadora de Cristo.

39. Os Superiores, dóceis à vontade de Deus, exerçam a sua autoridade com espírito de serviço, segundo a Regra, no seguimento do Evangelho (cf. Mt 20, 26-27), e governem os religiosos como filhos de Deus, com respeito pela pessoa humana.

40. O voto de obediência obriga gravemente quando se manda sob preceito formal. A faculdade de impor a cada religioso este preceito, havendo causa grave, compete unicamente aos Superiores maiores, dentro dos limites da sua respectiva jurisdição. O preceito deve ser por escrito ou na presença de duas testemunhas.

41. Como filhos da Igreja, aceitamos com docilidade a doutrina do Magistério da Igreja e assumimos, com obediência ativa e responsável, as determinações da autoridade da Igreja, sobretudo do Sumo Pontífice, ao qual estamos também vinculados pelo voto de obediência, segundo o direito.

 

IV. Abnegação evangélica

42. Desejosos de viver como bons cristãos, e de aspirar à intimidade divina que se oferece aos amigos de Jesus crucificado, abraçamos a doutrina dos nossos Santos Padres sobre a abnegação e a penitência, praticadas por amor de Cristo, como norma de vida; de contrário, nem gozaremos da íntima comunhão com Deus nem daremos fruto no nosso apostolado.

43. Com o fim de encarnar humildemente na vida este ideal, aceitamos com alegria e coragem a abnegação inerente à prática dos conselhos evangélicos. Ajudamo-nos a levar as cargas uns dos outros (cf. Gal 6, 2) suportando-nos por amor; dedicamo-nos com fidelidade perseverante à oração e afadigamo-nos na atividade apostólica em nome de Cristo; realizamos com gosto qualquer trabalho, por humilde e ingrato que seja, no serviço dos irmãos; aceitamos todos os incômodos e dificuldades da vida para completar em nós o que falta à paixão de Cristo (cf. Col 1, 24).

44. Para alcançar esta meta é preciso dispormo-nos ativa e generosamente, testemunhando o espírito de abnegação que nos legaram os nossos Santos Padres, mesmo a nível comunitário.

Portanto, com a austeridade suave e abnegada do Carmelo Teresiano, queremos praticar as formas de penitência recomendadas pela Igreja, e prescritas na Regra, bem como as que surgirem de acordo com as exigências dos tempos.

 45. Desejosos de manter o espírito penitencial, os religiosos deveram seguir as prescrições sobre o jejum.

 

CAPÍTULO 3

A VIRGEM MARIA EM NOSSA VIDA

47. Associados, pela graça de Deus, aos «Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria», estamos inseridos numa família consagrada ao seu amor e culto, e que, sob o influxo vital de uma comunhão íntima com a Mãe de Deus, caminha para a plenitude da caridade. Esta comunhão entranha-se na vida comum e, com um cunho mariano próprio, marca o espírito de oração e contemplação, o apostolado em todos os seus aspectos e a própria abnegação evangélica.

48. A Virgem Maria enche com a sua presença a vida da Ordem, que tem as suas origens no Monte Carmelo. Da capela ali dedicada a Nossa Senhora recebe o nome e ostenta como sinal de glória o viver, com a aprovação da Igreja, em obséquio de Jesus Cristo e de sua Mãe. O Carmelo Teresiano experimentou profundamente e consolidou esta inspiração mariana original, seguindo as pegadas dos seus Santos Padres que propuseram a Mãe e Senhora da Ordem como modelo de oração e abnegação no caminho da fé, e como mulher entregue de alma e coração à escuta e contemplação das palavras do Senhor, sempre dócil aos impulsos do Espírito Santo e associada ao mistério Pascal de Cristo pelo amor, a dor e o gozo.

49. Estas características, ao mesmo tempo que nos mostram a figura evangélica da Virgem Maria, também nos oferecem nela o modelo perfeito do espírito da Ordem e nos estimulam a seguir os seus passos, para que, como verdadeiros «pobres de Javé», configuremos a nossa vida à de Nossa Senhora pela contínua meditação da Palavra divina em fé e multíplice doação de amor, e pela mão desta Mãe sejamos introduzidos no mistério de Cristo e da Igreja.

Deste modo encarnamos na vida a nossa profissão que nos vincula também à Santíssima Virgem Maria e nos coloca sob a sua especial proteção. Expressamos tudo isto também com a devoção ao Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Graças a ele, reconhecemos a nossa pertença a Maria e, revestidos das suas virtudes, retratarmos a sua imagem no mundo.

50. A presença de Maria, ao mesmo tempo que vivifica a nossa espiritualidade, informa o nosso apostolado. Por isso, ao estudar a Sagrada Escritura, empenhamo-nos cada dia em conhecer melhor Nossa Senhora, a fim de que, pelo amor filial e cumprimento do nosso dever, transmitamos aos irmãos a autêntica piedade mariana, apresentando a Virgem Maria como mestra e modelo da comunhão com Cristo e com a Igreja.

51. Guiados pela fé, celebramos e promovemos com todo o empenho o culto litúrgico da Mãe de Deus, à luz do mistério pascal. Este mesmo culto encoraja-nos a praticar, com sentimentos de fé e de amor, os exercícios de piedade em honra da Mãe do Senhor.

52. A nossa família professa o mesmo afeto teologal para com aqueles que Deus, num mesmo desígnio de amor, quis associar privilegiadamente ao mistério da Encarnação do seu Filho. Com efeito, alimentados no espírito de Santa Teresa, amamos inseparavelmente a Virgem Maria e o seu esposo S. José, a quem veneramos como humilde servidor de Cristo e de sua Mãe, como exemplo vivo de comunhão orante com Jesus, e como protetor providencial da nossa Ordem.

 

CAPÍTULO 4

A COMUNHÃO COM DEUS

53. A vocação carmelitana impõe-nos o compromisso de «viver em obséquio de Jesus Cristo», «meditando dia e noite a lei do Senhor e velando em oração». E a nossa Madre Santa Teresa, na mesma linha da Regra, apresenta a vida de oração como o centro e a fonte para a qual convergem e brotam todos os elementos constitutivos do nosso carisma. Por isso, a Igreja reconhece-nos como uma família dedicada de modo especial à prática da oração, ou seja, uma comunidade que se propõe viver mais intensamente o mistério da oração cristã e do qual dá testemunho com a sua própria vida.

54. Jesus Cristo, o Senhor, elevou a nossa oração até ao mistério partilhado da sua própria oração, quer dizer, até ao mistério do colóquio filial com Deus vivo, nosso Pai, que nos fala em seu Filho primogênito e nos introduz na vida divina por meio do Espírito Santo. Jesus é o mestre que, pela confiança filial, nos ensina, por palavras e obras, a contemplar o Pai na solidão e na ação, rendendo-lhe a adoração e o louvor, e dirigindo-lhe súplicas e ações de graças no cumprimento ativo da vontade paterna.

55. Os nossos Santos Padres, mestres de oração, ensinam-nos, por meio da palavra e do exemplo, que a oração evangélica deve impregnar a vida inteira. E nós, unidos pela fé à humanidade de Cristo, oramos ao Pai pelo Espírito Santo num diálogo filial, e, com sentimentos de amor, olhamos em tudo para Jesus como amigo, de modo a transformar a nossa oração em sinal de vida teologal e fonte principal do serviço à Igreja. Na verdade, a oração conduz-nos à plenitude do amor e faz-nos mergulhar em profundidade na vida e nos problemas da Igreja e do mundo. Por isso, organizamos empenhadamente a nossa vida de oração de modo a que o carisma do Carmelo se reflita tanto nos religiosos individualmente como na comunidade; procuramos atentamente que o espírito de oração esteja presente no trabalho apostólico e, por sua vez, a ação apostólica alimente a oração.

56. A sagrada Liturgia nutre e revela admiravelmente esta convivência de amizade com Deus, e prolonga-a durante o dia na oração pessoal. Com efeito, a Liturgia, como fonte inesgotável da vida espiritual, como a ação mais excelente e a oração suprema da vida comunitária, enriquece a oração pessoal; esta, por seu lado, encarna na vida a ação litúrgica, tornando cada vez mais profunda a comunhão com os mistérios que celebramos.

57. Na celebração da Liturgia, a comunidade religiosa, enquanto expressão de uma Igreja particular, participa do mistério de Cristo e do seu sacerdócio. Pelos símbolos sacramentais, sobretudo pela celebração da Eucaristia, pela proclamação da Palavra de Deus e pelo canto dos louvores divinos, a nossa vida fraterna edifica-se e renova-se ao mesmo tempo através de uma atividade que, mais do que qualquer outra, representa e realiza a comunhão com a Igreja.

58. As determinações da Regra sublinham a importância da Liturgia na nossa vida. Também os nossos Santos Padres, com o seu exemplo e ensinamentos, lhe deram relevo ao sugerir um estilo peculiar para as nossas celebrações, fixando-se sobretudo na atitude teologal da participação ativa, na prática cultual do silêncio sagrado e numa forma de celebrar cheia de dignidade, sobriedade e sentimento da presença do Deus vivo.

 59. Cada comunidade, dentro do âmbito das normas prescritas pela competente autoridade eclesiástica, determine a ordem e o modo das celebrações litúrgicas, de maneira que, tendo em conta as suas peculiares necessidades e variedade de ritos, a Liturgia seja viva e plenamente participada, com uma oportuna participação dos fiéis.

60. Todos os dias participamos comunitariamente na Eucaristia, sacrifício e banquete, que estreita os laços da fraternidade e alimenta a ação apostólica. Seguindo o exemplo dos nossos antepassados, durante o dia prolongamos a comunhão com Cristo sacramentado por meio da adoração e do colóquio de amizade.

61. Todos os dias rezamos, comunitária e integralmente, a Liturgia das Horas. Com elas, estendemos pelos vários momentos do dia o louvor, a ação de graças, e a recordação dos mistérios da salvação. Deste modo, em nome da Igreja e de toda a Humanidade, associamo-nos ao canto perene de louvor e glorificação de Cristo e exaltamos e bendizemos o Pai a uma só voz e num mesmo espírito.

Os religiosos clérigos professos solenes, que não participam na celebração comunitária da Liturgia das Horas, estão obrigados a rezá-las em particular.

62. Aproximamo-nos freqüentemente do sacramento da penitência ou reconciliação, para que confessando à Igreja os nossos pecados, com um coração contrito, queremos reconciliar-nos com ela, a quem ferimos pelo pecado, e, após obter, pelo seu ministério, a misericórdia de Deus, crescer na amizade divina. Deste modo, esforçamo-nos por encontrar a pureza do coração com a nossa contínua conversão a Deus, sem a qual não podemos viver de forma perseverante a oração e a contemplação.

63. O dever cristão de orar não se esgota na participação da Liturgia. Com efeito, os cristãos, chamados à oração comunitária, têm de entrar também no seu aposento para rezar ao Pai «em segredo» (cf. Mt 6,6). Mais ainda, segundo o ensinamento do Apóstolo, estão obrigados a orar sem cessar (cf. 1 Tes 5, 17). A nossa família, chamada a imitar de um modo particular a Cristo que, no deserto se entrega à contemplação e faz de toda a sua vida uma oração, cultiva na solidão a relação de amizade com o Pai, cujo amor verdadeiramente conhece, como um exercício contínuo de fé, esperança e caridade.

É assim que a Igreja nos vê quando nos convida a procurar com toda a alma a comunhão com Deus por meio da contemplação, um estilo de oração que assumimos com alegria e como um compromisso pessoal.

64. A fim de fomentar esta vida de oração, a nossa Ordem estabeleceu, desde o princípio, duas horas diárias de oração dedicadas exclusivamente ao colóquio com o Deus vivo. Portanto, cada comunidade, tendo em conta as suas próprias circunstâncias e as de cada religioso, escolha duas horas de oração, durante as quais se compromete a manter e respeitar a oração pessoal de cada um. O religioso que, por motivos justificados pelo superior, não puder assistir à oração comunitária, fá-la-á noutro tempo.

65. Para que a freqüente convivência de amizade com Deus seja mais proveitosa, é preciso meditar e conhecer com o máximo interesse a Palavra de Deus. Por conseguinte, cada um dos nossos religiosos, trazendo nos lábios e no coração a Palavra de Deus, como exorta a Regra, dedique-se particularmente à leitura e à meditação dos Evangelhos e de toda a sagrada Escritura, a fim de alcançar o sublime conhecimento de Cristo Jesus (cf. Fil 3,8).

66. Para que a oração impregne a vida toda, procurem os nossos religiosos andar solícitos na presença de Deus pela fé, a esperança e a caridade. O exercício da presença de Deus, por um lado manifesta de modo excelente a oração contínua, e por outro lado contribui ao máximo para o desenvolvimento da vida de oração.

67. A fim de que toda a nossa vida nos prepare para a oração, pratiquemos solicitamente as virtudes evangélicas, de entre as quais se destacam a humildade, o amor fraterno e a renúncia de si mesmo em espírito de pobreza.

68. Devemos guardar com firmeza e solicitude o silêncio, segundo o espírito da Regra, para proteger e alimentar a vida de oração e favorecer o trabalho individual em solidão. Por isso, devemos harmonizar a convivência fraterna, o trabalho e tudo o resto com a prática do silêncio, a fim que os nossos conventos sejam verdadeiras casas de oração e ofereçam a todos um testemunho da comunhão com Deus. Cada comunidade fixará e observará os tempos de silêncio obrigatório.

 Os meios de comunicação ocuparão o lugar que lhes corresponde a fim de cumprirem o fim a que de fato se destinam e não prejudiquem o espírito de oração e de silêncio. Sobre isso zelem com especial cuidado os superiores.

69. No propósito da nossa comunidade ser e aparecer como «comunidade de orantes», todos e cada um dos nossos religiosos procurem e utilizem, de mútuo acordo, os meios e os modos mais oportunos que favoreçam o espírito e a prática da oração.

70. É nosso desejo que a estrutura e aspecto das casas, ofereçam um estilo condizente com a nossa vida, a fim de manterem e desenvolverem o espírito de oração.

 71. A Ordem deve conservar e promover momentos onde os religiosos, a quem o Espírito conduz ao «deserto» por um especial impulso, possam encher-se plenamente de Deus para bem da Igreja universal e enriquecer com a sua vida o espírito de oração da nossa família.

 

CAPÍTULO 5

COMUNHÃO COM OS IRMÃOS

72. A caridade há de ser a norma suprema da vida comunitária, porque a comunhão fraterna tem como fundamento e vínculo o amor de Cristo.

Segundo o mandamento do Senhor (cf. Jo 15, 12; Ef 5,2) devemos amar-nos uns aos outros com aquela caridade que o Espírito Santo derramou nos nossos corações (cf. Rom 5,5) e com a competência na mútua estima fraterna (cf. Rom 12, 10).

73. É preciso que a comunhão fraterna, que nos congrega numa mesma vocação à maneira do pequeno «colégio de Cristo», se manifeste na vida de oração, na atividade apostólica e na solicitude do amor por meio da distribuição dos bens. Cada religioso deverá sentir-se acolhido pelos outros com afeto sincero. Floresça entre todos uma autêntica relação familiar. Uns e outros, superando as dificuldades momentâneas, graças à renúncia evangélica de si mesmos e perdoando as mútuas ofensas, estabeleçam entre si um elo de amizade e apreço mútuo, vivendo a verdade no amor.

74. A comunidade fraterna goza da presença de Cristo, que a vivifica e enriquece por meio do seu Espírito para que revele o amor de Deus aos homens, seja sinal da fraternidade universal e testemunhe a eficácia da caridade evangélica, da justiça e da paz. Deste modo, também a comunidade fraterna, com a fé, esperança, caridade e abnegação, que a edificam e alimentam, condena as injustiças do mundo e desperta as consciências dos homens para seguir os caminhos da justiça evangélica.

75. A Eucaristia, sinal de unidade e vínculo de caridade, é a fonte e expressão de toda a vida fraterna. É essencialmente isto que os religiosos manifestam através da sua celebração comunitária. Além disso, convocados em Cristo e guiados pelo Espírito Santo, louvam e dirigem-se ao Pai com um coração e uma voz unânimes, celebram a Liturgia das Horas e entregam-se à oração pessoal.

76. Como membros de uma mesma família, vivemos juntos na mesma comunidade e sem nos ausentarmos dela, a não ser com a licença do superior competente, a teor das Normas aplicativas.

77. Unidos pelo vínculo da caridade, tomamos, agradecidos, numa mesa comum, – símbolo da comunhão fraterna –, as refeições que a divina Providência nos proporciona, enquanto escutamos a leitura sagrada ou conversamos amigavelmente com os nossos irmãos.

78. Participamos no recreio comum, caracterizado pela alegria e pela simplicidade, a fim de construir a comunidade e partilhar com os outros a alegria do coração.

79. Chamados a uma família dedicada à Virgem Maria, levamos o hábito da sua Ordem como sinal da comum consagração.

80. A vida comunitária exige uma ordem estabelecida, a fim de que, ao juntarmo-nos em determinadas horas, manifestemos e alimentemos a comunhão fraterna durante a oração e o trabalho.

Portanto, a comunidade, atendendo às suas circunstâncias, elabore um horário, que submeterá à aprovação do Conselho Provincial, de maneira que os religiosos possam participar ordinariamente nos atos comuns.

Nesse horário, devem constar os seguintes atos: a celebração da Eucaristia e da Liturgia das Horas, as horas de oração mental, as horas das refeições e dos recreios, o Capítulo e as reuniões comunitárias.

81. Como o amor não se fecha nos seus próprios interesses, mas procura sempre o bem dos outros (cf. 1 Cor 13, 5; Fil 2, 4), é desejável que todos os religiosos, como verdadeiros irmãos, se ajudem mutuamente pela oração e as obras, que reine uma cooperação sincera e eficaz entre as comunidades e as Províncias e, com gosto e generosidade, se favoreçam as iniciativas comuns da nossa Família propostas pela autoridade suprema da Ordem, para que em todas as partes se consiga e se manifeste o esforço de todos no cumprimento da nossa missão ao serviço da Igreja e dos homens.

82. O espírito de família deve resplandecer de modo particular no amor solícito para com os irmãos frágeis e doentes. Como é nosso dever, atenda-se aos idosos, procurando com todo o desvelo que se incorporem ativamente na vida da Província e das comunidades. Todos os religiosos, mas sobretudo os superiores, lembrando as Palavras do Senhor: «Estive doente e fostes visitar-me» (Mt 25, 36), prestem ajuda espiritual e material aos que sofrem, com delicada solicitude fraterna, conforme o espírito de Santa Teresa. Aos religiosos acometidos de doença grave, sejam-lhes administrados com tempo a sagrada Unção dos Enfermos e o Viático.

83. Zelosos pela hospitalidade cristã (cf. Rom 12, 9-13), acolhemos os hóspedes, sobretudo os nossos religiosos, de tal modo que possam sentir verdadeiramente o amor de uma família reunida em nome do Senhor.

84. Em comunhão permanente com os nossos irmãos que morreram em Cristo e, juntamente com eles, aguardando a promessa da vinda do nosso Salvador (cf. Tit 2, 13), oferecemos sufrágios fraternos pelas almas dos nossos defuntos com a oblação do sacrifício eucarístico e a oração.

85. Na vida fraterna, fomentamos a comunhão por meio do diálogo nas reuniões comunitárias. Nestes encontros examinamos o modo de viver a nossa vocação contemplativa e apostólica e, num clima de sinceridade, ajudamo-nos mutuamente, inclusive com a correção fraterna realizada segundo o espírito da Regra.

86. É necessário renovar constantemente o ideal da comunhão fraterna. De fato, já somos filhos de Deus e verdadeiros irmãos, mas, até que se revele a nossa futura identidade (cf. Jo 3, 2), nunca chegaremos a testemunhar em plenitude as riquezas da comunhão com Deus e com os irmãos. Por conseguinte, aspiremos a ser «um» conforme a oração de Cristo (cf. Jo 17, 11. 21-23), vivendo à altura do chamamento que recebemos, isto é, com humildade e simplicidade, suportando-nos uns aos outros com amor paciente, esforçando-nos por manter a unidade do Espírito pelo vínculo da paz (cf. Ef 4, 1-4), enquanto que, de algum modo e em cada dia com maior perfeição, antecipamos a comunhão da vida celeste até à vinda do Senhor.

 

CAPÍTULO 6

MISSÃO APOSTÓLICA DA ORDEM

87. Cristo, o enviado do Pai, é fonte e modelo de todo o apostolado. Portanto, é necessário viver em Cristo, revestindo-nos d’Ele no mais profundo do nosso coração e no nosso modo externo de viver, de maneira que, com o nosso testemunho de vida, proclamemos com alegria a mensagem evangélica, sobretudo aos pobres.

88. Por outro lado, a caridade, à qual nos conduz a prática dos conselhos evangélicos, vincula-nos de maneira especial à Igreja, impelindo-nos a partilhar com todos os homens os bens da vida presente e os da futura; estes bens oferecem-nos a liberdade com que Cristo nos libertou (cf. Gal 5,1) até alcançarmos todos a unidade da fé e a plenitude de Cristo.

89. A nossa Madre Santa Teresa, iluminada por uma experiência mais plena do mistério da Igreja e compelida pelo zelo da gloria divina, quis que a oração incessante e a abnegação evangélica do Carmelo renovado transbordassem de um ideal apostólico peculiar. Ao restaurar a Ordem dos frades, sentiu ardentes desejos de que eles, doutos e experientes nas coisas de Deus, trabalhassem, nos mais diversos campos ao serviço da Igreja, mas mais com obras do que com palavras. Assim, na esteira dos nossos antepassados, impregnamos a contemplação de espírito apostólico e esforçamo-nos por aprontar e manter continuamente a ação evangelizadora com a intimidade divina.

90. Sejamos assíduos à leitura e à meditação da Bíblia, para que, sem a deixar cair das mãos e do coração, e enriquecidos com o sublime conhecimento de Cristo Jesus (cf. Fil 3, 8) possamos transmitir aos homens as riquezas da Palavra de Deus. Esforçamo-nos também em ler os sinais dos tempos e interpretá-los à luz da mesma Palavra divina. Além disso, tratamos de adquirir ensinamento doutrinal e cultivar as virtudes humanas, tão apreciadas na sociedade.

91. Cada religioso trabalhe, segundo a graça que Deus lhe concedeu (cf. Rom 12,6), na edificação de todo o Corpo de Cristo e na promoção do bem das Igrejas particulares. Todos os nossos religiosos devem colaborar com solicitude na obra da evangelização, sob a autoridade dos seus superiores, não só enchendo de caridade apostólica as tarefas e ocupações da convivência fraterna, mas também realizando outros ministérios apropriados, sob a autoridade do bispo diocesano, segundo o direito.

92. É preciso que os nossos religiosos estejam preparados para ir onde as necessidades da Igreja e do mundo os reclamarem, aceitando a missão que legitimamente os Pastores lhes confiarem, sem esquecer a cultura e a história dos povos a quem são enviados.

93. Lá, onde o bem da Igreja solicitar a colaboração pessoal dos nossos religiosos, cada religioso deverá prestá-la em comunhão com os irmãos e o superior. Convém que todos os compromissos assumidos se impregnem de um espírito autenticamente carmelitano. É também graças a ele que as nossas comunidades se sentem continuamente evangelizadas e evangelizadoras.

94. A evangelização dos povos, que dimana da natureza íntima da Igreja e constitui realmente um admirável fruto da caridade e da oração, foi sempre uma das obras prediletas da Ordem. Com efeito, a nossa Madre Santa Teresa, acendeu na sua família a chama do zelo missionário que a abrasava, e quis que as suas filhas trabalhassem também na atividade missionária.

Por isso, há de procurar-se com desvelo que este entusiasmo missionário se mantenha e se propague na Ordem, que todos se interessem pela evangelização dos povos e que, em todos os lados, se promovam as vocações missionárias.

As comunidades e as Províncias apoiarão os nossos religiosos missionários com o amor, a oração e os recursos econômicos, e, assim, na medida das suas forças, todos contribuam para vitalizar e aumentar a Ordem, inclusive nas terras de missão.

95. Compete ao Capitulo Geral e, fora do tempo da sua celebração, ao Definitório Geral, confiar um território ao cuidado imediato de uma Província e animar e coordenar, com normas e meios pertinentes, a atividade missionária em toda a Ordem.

96. Os missionários procurem viver a comunhão fraterna, não só para que aumente cada dia o seu espírito religioso, mas também para que a sua atividade apostólica se intensifique sem cessar. Em cada missão haverá uma casa central, onde os missionários se poderão juntar e conviver periodicamente.

97. Face à exigência da caridade e das necessidades da Igreja, tendo em conta as circunstâncias dos lugares, assumimos o ministério paroquial como um serviço ao povo de Deus. Compete ao Definitório Geral, depois de ouvir o Conselho Provincial, admitir novas paróquias na Ordem ou renunciar às já existentes, observando as prescrições do direito universal e o teor do estipulado no número 100 das presentes Constituições.

98. Trabalhemos, sem descanso, no lugar onde nos foi confiado a cura de almas, para que as nossas paróquias sejam um reflexo do ministério da Igreja universal, enquanto procuramos com toda a solicitude que o espírito do Carmelo Teresiano seja a alma do nosso apostolado paroquial.

99. Na hora de prestar o nosso serviço à Igreja, dedicamos o melhor das nossas forças ao exercício do apostolado peculiar da Ordem que, de algum modo, brota do mesmo carisma; assim poderemos modelar e expressar também o testemunho específico e a missão própria numa Igreja particular.

100. Os nossos Santos Padres, com a sua vida e doutrina, gozam na Igreja de um magistério efetivo e reconhecido como guias dos caminhos que conduzem à íntima união com Deus. Isso exige de nós também que participemos da missão salvífica da Igreja com o apostolado da promoção da vida espiritual. Ao fazê-lo, prestamos um serviço à Igreja, de acordo com o carisma da Ordem, e atualizamos a tradição pastoral da nossa família. Por conseguinte, devemos procurar que as variadas iniciativas apostólicas de cada Província mantenham essa proporção; que o testemunho específico e o apostolado próprio da Ordem conservem sempre o lugar que lhes corresponde.

101. A nossa Família, desde as origens e de muitas maneiras, exerceu este apostolado peculiar com a palavra e com a escrita. Ainda mantemos algumas dessas formas, embora sujeitas a constantes renovações, e procuramos outras novas para partilhar generosamente com os outros o nosso rico patrimônio. Portanto, temos de pôr o máximo empenho em nos prepararmos devidamente pelo estudo das ciências sagradas e da espiritualidade carmelitana, a fim de poder, através de uma ação individual ou conjunta, guiar os homens ao conhecimento e à experiência da íntima comunhão com Deus.

102. A nossa solicitude apostólica deverá orientar-se de um modo particular para os grupos de pessoas que nos são mais próximas. Portanto, daremos prioridade à formação dos nossos irmãos, que partilham uma vocação idêntica.

103. A nossa missão específica na Igreja orienta-se particularmente para a direção espiritual e formação das nossas monjas, segundo a idéia de Madre Santa Teresa ao renovar a família dos frades. Assim, todos se hão de interessar-se pela fraterna assistência espiritual às carmelitas descalças. Por seu lado, os Superiores, sobretudo os maiores, fomentem e coordenem da maneira mais adequada, este ministério na sua própria circunscrição, observando as normas do direito. De igual modo, encarregamo-nos fraternalmente da formação dos membros do Carmelo Secular.